sábado, setembro 22, 2007

Tudo era diferente: o Sol, a Praia e Tu!



Imagina só, só e simplesmente só que prostrada numa areia branca e quente, sob um sol tropical, adormecias ao início da tarde e deixavas-te ali a sonhar, sonhos novos, nunca antes sonhados por ti. E adormecias.

Os sonhos conduziam-te a um imaginário. Não a um imaginário qualquer, mas, àquele imaginário especialmente colorido pelas flores, pelas árvores e pelos animais, aquele imaginário de criança que brinca descalça pela irregularidade das pedras do chão da rua.

Uma pessoa especial merece ter sonhos especiais de imaginários igualmente especiais.

A tarde já ficava tarde, era hora de a tarde se esconder e dar lugar à noite. O Sol fez questão de se despedir pessoalmente de ti, e foi-se embora devagarinho, dizendo-te adeus a cada passo que dava por detrás das nuvens claras. Eis no céu uma bela composição de cores. Tonalidades africanas que só mesmo lá se podem ver. Era lindo aquele Sol, era lindo aquele céu, eram lindas aquelas águas calmas da praia serena, eras linda tu, tudo á tua volta era belo. Tanta beleza junta ao mesmo tempo e no mesmo local que nem tu querias acreditar que estavas simplesmente a acordar dum sonho para uma realidade que naquela hora também parecia ser um sonho. Deixaste-te sonhar, deixaste-te acordar, despediste-te do Sol e também tu abandonaste aquele local.

Chegaste de novo a casa e nem querias acreditar que tinhas sonhado algo tão especial. Também tu não querias acreditar que eras naquele espaço especial uma pessoa especial.

Mas sentias dentro de ti uma voz meiga que de mansinho te dizia que na verdade estavas ali. Sentias um sonho a apoderar-se de ti, a comandar-te a vida – tu, que sempre quiseste ser tu mesma a comandar a tua própria vida, sentias-te agora a ser comandada por um sonho.

O teu mundo começou a pular e a avançar como uma “bola colorida entre as mãos de uma criança”. Sentias-te uma criança e sentias que essa bola colorida que saltava nas tuas mãos era simplesmente aquele Sol diferente que se tinha despedido de ti naquela praia.

Simplesmente: a ausência do SIMPLES!

Congelo-me frequentemente a pensar qual será o verdadeiro significado banalmente atribuído à expressão “é simples”. Mas o que é que “é simples”?

Acredito que para um mecânico seja simples trocar a cabeça de um motor, acredito que para um chefe-de-cozinha seja simples fazer um bitoque com batatas-fritas e um ovo-a-cavalo, que para um alfaiate seja simples cortar tecido e fazer um belo traje africano, um sanguê, ou algo do género, que para um padre seja simples abençoar um retrato, que para um escritor seja simples juntar palavras e escrever um best seller, que para um economista ou um gestor seja simples deixar ao fim do mês alguns trocos de sobra na carteira, mas, e fica-se por aí o significado do “é simples”? – Acredito que não.

Assim sendo, continuo sem saber o que é que “é simples”.

Se o Homem é um ser imperfeito significa que também nas suas obras existem erros, concordas? Então, até um especialista comete erros. Se até um especialista erra significa que até nas coisas que para si são simples podem haver falhas, logo, se até naquilo que se domina existem erros onde reside a simplicidade? – o facto de uma coisa ser simples de fazer não significa que não se possa errar, era isso que ias dizer? Não digas.

Será correcto usar-se a expressão “é simples”?

É verdade que para algumas pessoas tudo parece, verbalmente, simples, contudo, também “é simples” ver-se pessoas a não conseguirem executar aquilo que intitulam de “simples”.

Como é que um ser tão complexo quanto o é o Ser Humano consegue ver simplicidade nas suas próprias obras? Apenas se pode encontrar, ainda que bruscamente, um resposta – classificar a dificuldade das coisas não é tarefa que esteja reservada aos humanos mas sim a Deus. Não quero, pois, reduzir ou desqualificar as capacidades que temos enquanto pessoas mas, na verdade nada numa vida complexa poderá ser “simples”.

Há heróis, vencedores e pessoas notáveis. Se chegar-mos perto dessas pessoas e perguntar-mos se foi simples chegar onde chegaram qual será a resposta?

_ Cheguei onde cheguei graças a muitos sacrifícios, foi preciso “comer o pão que o Diabo amassou” para chegar até aqui. Ora aí estão as belas das respostas estandardizadas sempre prontas a responder às “questões-tipo” frequentemente colocadas.

Acredito que “seja simples” dar uma resposta destas quando se quer tirar dela alguma rentabilidade e admiração.

Na verdade, parece-me que nada há e nada se consegue nesta vida sem sacrifício – dita-o o senso comum – e a simplicidade onde reside?

Há, no entanto, pessoas simples, mas, será simples viver de forma simples quando ao seu lado se erguem estranhas riquezas? Como consegue aquela criança brincar com um pneu de automóvel ou com um carrinho de madeira se ao seu lado um menino joga playstation e o seu irmão vê filmes no computador? É simples?

Como consegues tu percorrer quilómetros a pé com uma bacia cheia de roupa à cabeça para ires lavá-la ao rio mais próximo e veres que ao teu lado vive um senhor que na sua grande casa tem uma máquina na qual se mete a roupa suja e passados alguns minutos ela sai lavada, e que guarda alguns carros topo-de-gama na garagem ao lado dos seus barcos e motas-de-água? É simples?

Não é simples.

Vai às compras!

As tuas sapatinhas já são da colecção passada, ainda não viste o catálogo da nova colecção? E andas tu aí na rua com umas sapatilhas já ultrapassadas e que por acaso até já têm uma entrada de ar do lado direito! Deixa-te de ser poupado e vai àquela loja nova que abriu ali no novo centro comercial e compra umas sapatilhas novas, da nova colecção.

Tinhas já o destino traçado para as tuas poupanças do dinheiro que ganhaste a trabalhar no Verão, agora acabaste de ouvir uma voz que te encosta a uma decisão – ou compras umas sapatilhas da moda ou acabas sozinho, desprezado pelos teus “amigos”.

Solta-se em ti um grito silencioso nessa tua voz alta abafada pela multidão. Pegas na tua carteira velha e nas tuas economias, fechas a porta de casa e sais para a rua – é como lançar um pedaço de carne para o meio das feras. Percorres turisticamente todas as lojas do Shopping e acabas por concluir que não há nada que te agrade. Mas… o teu “amigo” disse-te que as tuas sapatilhas já estão ultrapassadas.

Ficar sozinho, abandonado pelos “amigos” é a última coisas que alguém deseja na vida.

Compras-te as sapatilhas, mesmo sem gostares delas - agora vais ter muitos amigos. Os amigos serão teus ou das tuas novas sapatilhas?

Queres ter novos amigos?

Vai às compras!

terça-feira, setembro 18, 2007

(Des)fruta - (Des)flora


Estrelícia







Fruta-Pão







Maracujá

segunda-feira, setembro 17, 2007

Acende a lanterna e alimenta a conversa eterna

Aprendi mais do que sei, sei coisas que desconheço, ando em busca das palavras que são lidas ao contrário, ou quem sabe do avenço. Faz-me falta o que já tenho, os sonhos que construí, só as minhas mãos tão cheias desmentem o que não fiz. Apenas faço um aceno, um sinal diz após dia, sentado à beira do mundo para dizer que estou aqui, e quem me achar que me acompanhe ao lugar onde queria e não consegui – sorrir.

Tudo acontece de repente, até quem sempre fala a verdade depois mente. Fico com sono apenas para não ler mais uma vez as páginas riscadas do livro que me persegue. Pergunto-lhe se quer ser lido, e ele responde que o dia é comprido demais para ser vivido. Sento-me sossegadamente na cadeira de bambú que trouxe das índias, fumo um cachimbo-de-água para apaziguar enganosamente a minha mente que me desmente da verdade que eu próprio quero esconder. Tudo passa, tudo corre, e até o tempo morre de velho por tanto esperar por mim. A vida é mesmo assim, meu neto, diz ele. E eu, claro, guardo eternamente as suas sábias palavras de quem já muito viveu, e agora apenas merece sentar-se ao meu lado a contar-me histórias vividas com o sofrimento próprio da sua altura. Eu escuto-o, eu amo-o, pois ele é o meu avô.

Deixo a acalmia do mar e parto rumo à imensidão da azáfama citadina. Pego na mala e com dois beijos me despeço dele, até ao meu inesperado regresso. Sei que ele fica, acompanhado, sentado, à minha espera.

E tu, o que queres fazer da vida? Continuar a aparecer em animações de rua a fazer de marioneta, ou preferes encarnar e tornar-te pessoa?

Vê a realidade das coisas e deixa prós outros a vontade de se mutilarem em minas inactivas.

Cheguei à cidade, estou pronto para almoçar ou jantar contigo. Continua de pé o que tínhamos combinado ou a tua assessora diplomática não te autoriza a almoçar comigo em horário laboral? Deixa-te dessas coisas.

Encara a vida com a tua vontade própria. Sê amiga de quem quiseres ser e deixa de parte os juízos de valor que te obrigam a adquirir por jurisdição de outras cabeças que não a tua. Eu sei que é difícil sair da rede depois de tu mesma teres entrado nela por tua própria e livre vontade. Mas… agora aguenta-te, não te lamentes com a falta da presença dos ausentes. E olha, acredita que isto não é mais um dos meus devaneios em Hip-Hop, é apenas uma forma sincera de falar sem que se note.

Deixo-te com o ponto final da frase, que também poderá ser ponto final noutras circunstâncias, sem que seja necessário recorrer às abundâncias das intolerâncias vividas e sofridas pela falta de diálogo livre. Todas as conversas sob controlo poderão agora ficar, agora, apenas circunscritas a um simples rolo, de papel higiénico. Assim, poder-te-ás limpar a elas em momentos de aflição. Daquelas aflições que poderão ocorrer quando o facto de se ingerirem bebidas alcoólicas provoca a inactividade da profilaxia da diarreia. Tudo acontece da mesma forma que a táctica de caçar a presa na teia. Ficarás para sempre presa à tua correia. Excepto se tiveres a força suficiente para a quebrares.


Esta palha é para ti, mesmo que seja comida por outros... a digestão apenas tu a farás...

Gosto das tuas palavras como tu as escreves e não como os teus editores as publicam...