segunda-feira, agosto 07, 2006

Gang 25 - o repouso sazonal

Caros amigos e amigas, para quem não conhece existe em Coimbra, na Rua de Santa Teresa, um esconderijo secreto, protegido divinamente pelo convento das Carmelitas. Eu chamo-lhe de "refúgio dos deuses". Consiste numa habitação centenária e de tradição académica que alberga há "bué da time" carradas de manfios a que a sociedade se habituou a chamar de estudantes. O número da porta deu a este colectivo de rapaziada o título de Gang 25. Trata-se de um grupo mal organizado que quando quer até se organiza, mas apenas com o objectivo de contribuir para o avanço do conhecimento na área da enologia. Espero que esta última afirmação não induza as cabeças mais mazinhas ao erro de considerar esta milícia um grupo de alcoólicos anónimos. Até porque seria um grande disparate achar que 10 indivíduos que não gostam de ingerir bebidas alcoólicas são um grupo de alcoólicos anónimos.

A composição deste grupo é da mais alta qualidade e deve-se a elevados e rígidos critérios de selecção. É formado por individualidades das mais diversas áreas académicas, pois só assim se consegue garantir a mais alta eficácia mo maior número de áreas diferentes. Assim sendo, o Gang comporta membros das mais diversas áreas, a saber: Medicina, Química, Ambiente, Mecânica, Advocacia, Electrotecnia e Arqueologia.

A existência deste Gang visa a fomentação de um espírito académico apurado. Os objectivos têm sido cumpridos graças à persistência do chefe. O chefe é um magano de idade avançada, estatura óssea bastante evoluída e espírito decente. Educado e bom rapaz vai conseguindo manter a ordem no interior da sede do Gang, apesar de algumas vezes ter que recorrer à publicação de avisos impressos em pequenos fragmentos de papel, do género: "cambada o papel higiénico está-se a acabar, por isso vamos todos contribuir com a módica quantia de 3 euros", á excepção do gajo que limpa o dito cujo com toalhetes Dodot. Ou então algo do género: "cambada a electricidade está cara, por isso vamos ligar a máquina de lavar loiça só a partir das 23 horas da noite, obrigado, a gerência". Mas para ser ainda mais descritivo posso parafrasear um outro aviso de parede que diz o seguinte: "é favor de tirar os cabelos do ralo da banheira depois de tomarem banho, bem como passar por água, obrigado, a gerência".

Este é o segredo da ordem e da organização do desorganizado Gang 25, sob a direcção do Sr. Dr. Eng. Pedro Mourato - o senhorio.

É com muita honra que faço parte do Gang 25, sendo, juntamente com o indivíduo mais Rico que conheço, a última aquisição do Gang.

Rapaziada, agora que é tempo de "vacances" vamos todos "vacancear" para recarregar baterias para o próximo ano.

Boas férias a todos

Abraços

1224 Imparável: por Caminhos de Santiago - Sem Tiago

Ora aí está mais uma aventura do 1224, desta vez por Caminhos de Santiago, mas, sem Tiago.

A garra do caminheirismo, apoiada pela dirigência, revela-se cada vez mais forte. Com saída pela tarde de amanha, dia 8 de Agosto, cinco Caminheiros acompanhados pelos dois únicos Dirigentes do magnífico, do fantástico, do belo, do forte, do magnânimo, do lutador, do vencedor, do imparável agrupamento da Marinha das Ondas metem malas às costas e botas nos pés e rumam pelos trilhos da audácia e da coragem com a vontade de chegar sempre mais além, desta vez Santiago é o destino dos nossos peregrinos.

Comigo fica a pena de não os poder acompanhar, mas, a vida é feita de opções, de decisões e de prioridades. Será, sem dúvida, uma experiência muito enriquecedora para todos. Aguardando anciosamente pelo seu regresso cheio de histórias para contar, por aqui fico pensando nas coisas que certamente irei perder e deixar de viver.
A coragem faz a diferença entre os fortes e os fracos.



Estarei convosco no meu pensamento.

Forte CANHOTA irmãos

domingo, agosto 06, 2006

Un Padre Nuestro Latino-Americano

Amigos e amigas, recebi recentemente de uma amiga arqueóloga de Valladolid - Espanha um poema de Mario Benedetti intitulado "Un Padrenuestro Latinoamericano". Li-o, reli-o, voltei a ler e tornei a reler. É, sem dúvida, um texto penetrante. Penetra mesmo. Infiltra-se no nosso intimo mais intimo e mais sensível e deixa dentro de nós a sensação de que muitas vezes vemos o mundo com olhos cruéis, achamos que o mundo é cruel, quando na realidade os cruéis são os nossos olhos, sou eu, és tu, somos nós.

É, na verdade, um poema muito belo, muito verdadeiro, muito realista.

É por ter todas estas características que quero torná-lo também vosso, esperando que tenha em vós o mesmo impacto sensibilizante que teve comigo. Só com este tipo de partilhas nos ajudamos uns aos outros a ver o mundo com outros olhos, a tocar no mundo com outras mãos, a andar pelo mundo com outros pés e a amar os outros com um coração mais puro e humilde.

Mario Benedetti escreveu assim:

Padre nuestro que estás en los cielos

con las golondrinas y los misiles

quiero que vuelvas antes de que olvides

como se llega al sur de Río Grande

Padre nuestro que estás en el exilio

casi nunca te acuerdas de los míos

de todos modos dondequiera que estés

santificado sea tu nombre

no quienes santifican en tu nombre

cerrando un ojo para no ver la uñas

sucias de la miseria

en agosto de mil novecientos sesenta

ya no sirve pedirte

venga a nos el tu reino

porque tu reino también está aquí abajo

metido en los rencores y en el miedo

en las vacilaciones y en la mugre

en la desilusión y en la modorra

en esta ansia de verte pese a todo

cuando hablaste del rico

la aguja y el camello

y te votamos todos

por unanimidad para la Gloria

también alzó su mano el indio silencioso

que te respetaba pero se resistía

a pensar hágase tu voluntad

sin embargo una vez cada

tanto tu voluntad se mezcla con la mía

la dominala

enciende

la duplica

más arduo es conocer cuál es mi voluntad

cuándo creo de veras lo que digo creer

así en tu omnipresencia como en mi soledad

así en la tierra como en el cielo

siempre estaré más seguro de la tierra que piso

que del cielo intratable que me ignora

pero quién sabe

no voy a decidir

que tu poder se haga o deshaga

tu voluntad igual se está haciendo en el viento

en el Ande de nieve

en el pájaro que fecunda a su pájara

en los cancilleres que murmuran yes sir

en cada mano que se convierte en puño

claro no estoy seguro si me gusta el estilo

que tu voluntad elige para hacerse

lo digo con irreverencia y gratitud

dos emblemas que pronto serán la misma cosa

lo digo sobre todo pensando en el pan nuestro

de cada día y de cada pedacito de día

ayer nos lo quitaste

dánosle hoy

o al menos el derecho de darnos nuestro pan

no sólo el que era símbolo de Algo

sino el de miga y cáscara

el pan nuestro

ya que nos quedan pocas esperanzas y deudas

perdónanos si puedes nuestras deudas

pero no nos perdones la esperanza

no nos perdones nunca nuestros créditos

a más tardar mañana

saldremos a cobrar a los fallutos

tangibles y sonrientes forajidos

a los que tienen garras para el arpa

y un panamericano temblor con que se enjugan

la última escupida que cuelga de su rostro

poco importa que nuestros acreedores perdonen

así como nosotros

una vez

por error

perdonamos a nuestros deudores

todavía

nos deben como un siglo

de insomnios y garrote

como tres mil kilómetros de injurias

como veinte medallas a Somoza

como una sola Guatemala muerta

no nos dejes caer en la tentación

de olvidar o vender este pasado

o arrendar una sola hectárea de su olvido

ahora que es la hora de saber quiénes somos

y han de cruzar el río

el dólar y el amor contrarrembolso

arráncanos del alma el último mendigo

y líbranos de todo mal de conciencia

amén.

É uma outra forma de rezar. Não anula, não aniquila, nem desmente o "Pai Nosso" que Jesus nos ensinou, mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser uma oração bela, pura, realista e humana.

Leiam

Reflictam

Rezem

Discutam

Partilhem

Obrigado Miriam

quinta-feira, agosto 03, 2006

"Pecadores" - a ambiguidade da questão

“Pecadores” é o título de uma recente crónica do jornalista Rui Pêgo publicada na última página do suplemento Domingo do pasquim Correio das Manhã de 30 de Julho do corrente ano.

O título é sugestivo. Tão sugestiva quanto o titulo é a visão e a posição deste jornalista face à tão badala e recente decisão das finanças de trazer a público a lista dos devedores ao Fisco.

Acertar na previsão do entupimento do site das Comunicações e Impostos apresenta maior probabilidade de estar certa do que as suposições do Tarot da “Abelha Maya”. Tal não é a curiosidade, típica dos Portugueses, em saber quem e quanto deve ao Sr. Fisco. Será que é desta vez que se cumpre o velho ditado de que “quem com ferros mata, com ferros morre”? Quem com ferros mata, todos sabemos. Quem com ferros morre não é quem com ferros matou mas sim quem com ferros foi morto.

Uma coisa é certa, tal publicação poderá não servir para a liquidação das dívidas, mas para por o país inteiro a vasculhar a “net” à procura de nomes conhecidos, evidenciando mais uma vez o carácter mesquinho das pessoas que compõem este nosso país, servirá de certeza.

Penso que esta atitude não é suficiente para dar ao senhor ministro das finanças o prazer de vir a público dizer que o défice diminuiu, contudo, a vergonha de cada devedor será bem clara, excepto se o devedor for analfabeto e não conseguir ler o seu próprio nome na lista negra e o confundir com o do vizinho do lado. Já diz a Bíblia: “(…) é mais fácil ver uma palhinha no olho do outro do que ver uma grande trave no próprio olho (…)”.

Acerca do título do referido artigo só não sei a quem se dirige o elogio de “Pecadores”, se aos devedores, se aos mentores de tal lista. Se considerarmos o popular ditado de “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”, então estão os devedores durante cem anos perdoados e os fazedores da lista condenados.

Em relação a pecados coube a última palavra ao Sr. Cardial Patriarca ao afirmar que fugir aos impostos se trata de uma trapaça com um impacto social tremendo, duvidando da possibilidade de se tratar de se tratar de um pecado.

Algumas considerações finais (mais lenha para a fogueira):

· Quando se dará tanta publicidade à listagem dos ordenados chorudos dos nossos “amiguinhos” políticos quanto se está a dar à referida lista negra de dívidas ao Fisco?

· E a lista negra das despesas fúteis dos nossos deputados?

· E a lista dos “popós” de alta cilindrada dos nossos representantes e respectivos preços? Já estará disponível na página web do Ministério das Finanças na secção dos “beneficiados” do Estado?

Elaborar listas com esta informação acerca dos contribuintes é desnecessário, já sabemos o que a casa gasta:

· Remuneração mensal de 375 euros (salário mínimo nacional).

· Destino de mais 50% deste salário: tremoços, cervejas, bilhetes para jogos de futebol, entre outras despesas de maior necessidade.

· Têm estacionado à porta de casa um humilde automóvel importado. Só assim se consegue diminuir os gastos na aquisição de um automóvel, pois apesar de chegarem a Portugal ao mais baixo preço da Europa são vendidos ao mais elevado. Tal não é o exagero do imposto automóvel no nosso Portugal.

O “Zé Povinho” é quem merece ser envergonhado?

É este o país onde nascemos e vivemos, e quem está mal que se mude.

Esta foi a cama que fizemos, por isso deitemo-nos dela.

Bons sonhos.