quinta-feira, agosto 03, 2006

"Pecadores" - a ambiguidade da questão

“Pecadores” é o título de uma recente crónica do jornalista Rui Pêgo publicada na última página do suplemento Domingo do pasquim Correio das Manhã de 30 de Julho do corrente ano.

O título é sugestivo. Tão sugestiva quanto o titulo é a visão e a posição deste jornalista face à tão badala e recente decisão das finanças de trazer a público a lista dos devedores ao Fisco.

Acertar na previsão do entupimento do site das Comunicações e Impostos apresenta maior probabilidade de estar certa do que as suposições do Tarot da “Abelha Maya”. Tal não é a curiosidade, típica dos Portugueses, em saber quem e quanto deve ao Sr. Fisco. Será que é desta vez que se cumpre o velho ditado de que “quem com ferros mata, com ferros morre”? Quem com ferros mata, todos sabemos. Quem com ferros morre não é quem com ferros matou mas sim quem com ferros foi morto.

Uma coisa é certa, tal publicação poderá não servir para a liquidação das dívidas, mas para por o país inteiro a vasculhar a “net” à procura de nomes conhecidos, evidenciando mais uma vez o carácter mesquinho das pessoas que compõem este nosso país, servirá de certeza.

Penso que esta atitude não é suficiente para dar ao senhor ministro das finanças o prazer de vir a público dizer que o défice diminuiu, contudo, a vergonha de cada devedor será bem clara, excepto se o devedor for analfabeto e não conseguir ler o seu próprio nome na lista negra e o confundir com o do vizinho do lado. Já diz a Bíblia: “(…) é mais fácil ver uma palhinha no olho do outro do que ver uma grande trave no próprio olho (…)”.

Acerca do título do referido artigo só não sei a quem se dirige o elogio de “Pecadores”, se aos devedores, se aos mentores de tal lista. Se considerarmos o popular ditado de “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”, então estão os devedores durante cem anos perdoados e os fazedores da lista condenados.

Em relação a pecados coube a última palavra ao Sr. Cardial Patriarca ao afirmar que fugir aos impostos se trata de uma trapaça com um impacto social tremendo, duvidando da possibilidade de se tratar de se tratar de um pecado.

Algumas considerações finais (mais lenha para a fogueira):

· Quando se dará tanta publicidade à listagem dos ordenados chorudos dos nossos “amiguinhos” políticos quanto se está a dar à referida lista negra de dívidas ao Fisco?

· E a lista negra das despesas fúteis dos nossos deputados?

· E a lista dos “popós” de alta cilindrada dos nossos representantes e respectivos preços? Já estará disponível na página web do Ministério das Finanças na secção dos “beneficiados” do Estado?

Elaborar listas com esta informação acerca dos contribuintes é desnecessário, já sabemos o que a casa gasta:

· Remuneração mensal de 375 euros (salário mínimo nacional).

· Destino de mais 50% deste salário: tremoços, cervejas, bilhetes para jogos de futebol, entre outras despesas de maior necessidade.

· Têm estacionado à porta de casa um humilde automóvel importado. Só assim se consegue diminuir os gastos na aquisição de um automóvel, pois apesar de chegarem a Portugal ao mais baixo preço da Europa são vendidos ao mais elevado. Tal não é o exagero do imposto automóvel no nosso Portugal.

O “Zé Povinho” é quem merece ser envergonhado?

É este o país onde nascemos e vivemos, e quem está mal que se mude.

Esta foi a cama que fizemos, por isso deitemo-nos dela.

Bons sonhos.

1 Comentários:

Blogger Daniel Carvalho Domingues disse...

Caro Lino,
Apraz-me ser o primeiro a elaborar uma critica realmente construtiva relativamente aos seus artigos neste seu blog. Posso dizer que fiquei um tanto ou quanto surpreendido com a sua escrita, sendo ela até agradável de se ler. Espero que continue a escrever neste seu blog, e não o deixe morrer, facto de acontece frequentemente nos primeiros 2/3 meses de existência de um blog. Não perdendo mais tempo, vou passar ao comentário propriamente dito.
Meu caro, posso vivamente afirmar que comungo da sua reticência relativamente à publicação da lista nacional de devedores ao fisco. No entanto, penso que o maior perigo não é «pôr o país inteiro a vasculhar a “net” à procura de nomes conhecidos», mas sim o poder que os “fazedores” dessa mesma lista têm nas mãos: muitos erros podem surgir, voluntários ou involuntários, e quando surge um nome nessa lista por engano, é um nome que fica manchado. Mesmo que depois seja rectificado, é sempre um “vizinho” que ficou a dever. É a honra da pessoa que está em jogo. E nada disto seria de temer, se nós não soubéssemos já que em Portugal surgem sempre “muitos erros”…
«“Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”, então estão os devedores durante cem anos perdoados e os fazedores da lista condenados». Permita-me discordar de toda esta ideia estereotipada e fortemente recorrente que se mantêm na cabeça de muitos cidadãos de que o estado é um ladrão. Impostos tem de haver. É um facto inerente a uma nação, e se alguém discorda dela, tente mudar a situação, ou então mude-se daqui! Agora parasitas é que não!
Outra questão da qual concordo plenamente era a ideia de publicar a frota disponível a cada ministério, tal como outros “supostos” bens de primeira necessidade.

Deixo um abraço, e espero que vá dando uma olhada n'O Código! Cumprimentos.

Dani Domingues

11:16 da tarde  

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