sexta-feira, julho 28, 2006

Carta aberta para a National Geographic - Portugal


A carta que se segue foi enviada para a redacção da National Geographic Portugal em Junho de 2006 e será publicada na edição de Setembro.



Caros membros da NG, sou leitor da vossa (nossa) revista há cerca de 3 anos. Apesar de só recentemente me ter tornado assinante, tenho-a adquirido sempre nas bancas mais próximas. Como estudante de Arqueologia e amante do mar, da história, da vida selvagem e da fotografia, admiro muito o vosso trabalho. Contudo, e como se trata da NG - Portugal, não querendo criticar destrutivamente o vosso trabalho que já nos habituou à sua excelente realização, considero também que podiam apostar mais em especificidades nacionais do nosso país, que tanto e de tão belo tem para nos revelar e dar a conhecer. Não esqueçamos, pois, a nossa Arqueologia. O nosso Passado é a prova viva do nosso Presente e ao mesmo tempo é o argumento de projecção para o nosso Futuro. A tua História é a minha História, é a Nossa História.

A reportagem sobre a "Múmia Tatuada" de A. R. Williams e Ira Block (Junho 2006) está bastante interessante e a descoberta é realmente única. A presença de uma múmia do sexo feminino adornada com objectos "sui generis" de hierarquia superior cujo cargo até agora apenas tem sido admitido e interpretado como característica particular do sexo masculino vem, sem dúvida, revolucionar e por em questão diversas teorias interpretativas defendidas até então.

Dentro desta temática das tatuagens há quem defenda que o corpo usado como suporte de registo tem as suas origens em contemporaneidade com as primeiras formas de escrita. Por outro lado há também quem clarifique que existiu a crença de que o corpo era insuficiente e que a natureza, de alguma forma, deveria ser domada, daí se terem feito tatuagens e cicatrizes por todo o corpo. Inicialmente, a tatuagem servia para registar acontecimentos da vida natural (o nascimento, crescimento, reprodução/fecundidade e morte, bem como laços familiares). Posteriormente os factos sociais também passaram a ser tatuados no corpo (tornar-se num guerreiro, num sacerdote, casar-se, celebrar uma vitória, identificar a posse de prisioneiros, entre outros aspectos), para além de se pedir protecção ao sobrenatural, durante a vida e também para o post mortem.

No caso específico desta múmia não será de todo inválida a interpretação da tatuagem de uma serpente como símbolo de poder. Não nos esqueçamos, pois, por exemplo, que no Médio Oriente e na região do mar Egeu a serpente é um antigo deus da sabedoria sendo, intuitivamente, um símbolo telúrico. Note-se que no Egipto Rá e Áton ("aquele que termina ou aperfeiçoa") eram o mesmo deus. Áton o "oposto a Rá," foi associado aos animais da terra, um dos quais a serpente. Nehebkau ("aquele que se aproveita das almas") era o deus da serpente que zelava e guardava a entrada de acesso ao mundo dos mortos.

Agradecendo a atenção dispensada

Cordiais cumprimentos

Tiago Lino

(Marinha das Ondas - Figueira da Foz – Portugal)

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Tenho as minhas dúvidas quanto à interpretação da serpente como simbolo de poder, mas ok... Nunca te eskeças do contexto em que ela se encontra representada.

7:01 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home