terça-feira, outubro 10, 2006

Foi a Cegonha ou foi o Amor?

Entristece-me saber, mais ainda me entristece sentir, que o sentimento "AMOR" cada vez mais é substituído por outros, outros que se calhar nem merecem ser chamados de "sentimentos".

Basta reparar-mos nas diversas aplicações às quais atribuímos esta palavra tão bela. Amor de pais para filhos é "amor", amor de marido para esposa ou de namorado para namorada é "amor", amor dos discípulos para com o seu Senhor é "amor", amor entre familiares é "amor". A sua banalização é tão grande que um sentimento tão belo quanto o é o "AMOR" quase que se parece com um canivete-suiço, daqueles muiltifunções. É verdade. Nunca tinhas pensado nisto?

Até nisso os antigos Gregos eram mais sensíveis do que nós hoje somos; para cada tipo de situação usavam uma palavra diferente, assim não corriam o risco de banalizar palavras/sentimentos tão ricos em essência quanto o é este de que falo.

Mas vamos directos ao assunto.

O que te disseram os teus pais quando eras pequenino e te saíste com aquela questão paradigmática "mãe como é que nascem os bebés?"?

Certamente que a resposta foi: "Vêm no bico de uma cegonha".

Bem, quer dizer, é verdade que ás vezes as crianças nos surpreendem com perguntas tão espontâneas que no momento a resposta nem tempo tem para ser pensada. A verdadeira verdade é que outras tantas vezes a pedagogia adoptada pela entidade paternal não acompanha o avanço racional da puerícia.

Não sou psicólogo por isso não me cabe a tarefa de fazer juízos de valor ás formas educacionais com que fomos educados, só acho é que o "choque de água fria" com que depois somos confrontados é bem mais prejudicial à mente do sujeito do que se a verdade, a seu tempo, tivesse sido exposta, ainda que fosse necessário recorrer a frases mais simples. A mentira acompanha-nos logo desde que do seio materno saímos. Não concordas?

Eu até nem tenho nada contra essas tão belas aves, bem pelo contrário. A ornitologia faz parte de mim há muito tempo. Só penso que com melhores maneiras se podiam matar as mesmas pulgas.

As cegonhas são belas de mais para serem mortas paralelamente ao crescimento do homem. Sim, é verdade. Se em pequenos guardamos dentro de nós as cegonhas em tão boa e admirável consideração, o nosso crescimento, pelo contrário, vem causar-lhes a morte. Assim não admira que estejam em vias de extinção. Já o dizia a voz de Carlos Paião num poema tão belo quanto as próprias cegonhas e tão verdadeiro quanto o sonho que descreve.



"Cegonha"


Olá cegonha, gosto de ti!
Há quanto tempo, te não via por ai!
Nem teus ninhos nos telhados,
Nem as asas pelo céu!
Olá cegonha! Que aconteceu?

Ainda me lembro de ouvir-te dizer,
Que tu de longe os bebes vinhas trazer!
Mas os homens vão crescendo,
E as cegonhas a morrer!
Ainda me lembro... não pode ser!

Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha...é bom sonhar!
No teu destino, por nos traçado!
Leva o menino, que é pequenino, toma cuidado!

Adeus cegonha, adeus lembranças...
A gente sonha, como crianças!
Faz outro ninho, no som dos céus!
Vai de mansinho, mas pelo caminho, diz-nos adeus!

Adeus cegonha, tu vais voar!
E a gente sonha... é bom sonhar!
No teu destino, por nós traçado...
Leva o menino que é pequenino, toma cuidado!
Leva o menino... mas tem cuidado!


E esta heim?...

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