quinta-feira, setembro 14, 2006

Trancoso - Portas D'el Rei

Na tarde do passado dia 3 de Setembro, durante a viagem de autocarro para Macedo de Cavaleiros, tive a feliz oportunidade de estar parado durante alguns minutos no centro de Trancoso, mesmo em frente às Portas D’el Rei.

Ao olhar pela janela do autocarro dei com os meus olhos presos a uma elegante construção arquitectónica, verdadeiro exemplar de património ainda sobrevivente. Não pude perder a oportunidade de pegar na máquina fotográfica e registar tal beldade.

Trancoso encontra-se hoje rodeada de muralhas, da época dinisiana, com um belo castelo também medieval, a coroar este majestoso conjunto fortificado. Com os seus numerosos monumentos, de arquitectura civil e religiosa, constitui um dos mais expressivos e belos centros Históricos do país, visitado anualmente por milhares de pessoas. Destacam-se, entre todos, as igrejas paroquiais de Santa Maria e de S. Pedro, a Casa dos Arcos, do séc. XVI, a Igreja da Misericórdia, a Casa do Gato Preto, um curioso edifício do antigo bairro judaico e o Pelourinho, bela peça do mais puro estilo manuelino. Não esquecendo a antiguidade Trancoso mantêm traços medievais no centro histórico quase inalteráveis, sendo no exterior um meio urbano já moderno e planeado. Nesta Cidade nasceu também o Profeta e Sapateiro Gonçalo Annes Bandarra cujo túmulo se encontra numa das igrejas da cidade, travaram-se importantes batalhas entre as quais a Batalha de São Marcos num planalto a escassos quilómetros do centro histórico em 1385 que impôs pesada derrota às tropas invasoras e que foi uma anímica importantíssima para a Batalha de Aljubarrota.


Trancoso é hoje um pólo económico e social de elevada importância na região e que acompanhado pela sua hospitalidade merece, sem duvida, uma visita.

Um pouco da história do povoamento de Trancoso:

O povoamento em Trancoso terá começado no século XIX A.C.. A comprová-lo a existência de um primitivo castro pastoril, posteriormente defensivo, provavelmente situado no mesmo local onde mais tarde se havia de erguer o castelo. Em 301 A. C. chegam os invasores romanos, aproveitam e ampliam o castro, dada a sua posição estratégica, o que lhes permitiu uma permanência bastante demorada, até ao ano 409 da nossa era (século V A.C.).Existem 2 hipóteses sobre as origens de Trancoso:

- Túrdulos.

- Um enviado da Etiópia e do Egipto, de seu nome Tarracon.

Da segunda hipótese terá resultado o nome de Trancoso: Tarracon - Taroncon – Trancoso.

Outros falam que o nome de Trancoso terá resultado do vocábulo arcaico Troncoso, derivado do sítio onde existem muitos troncos ou florestas (Trancoso, nos seus primórdios, estava rodeada de densas florestas e ainda hoje é viveiro de árvores de grande porte).O nome só aparece documentado pela primeira vez no século X no testamento de D. Chamoa (ou D. Flâmula ou D. Chama), filha do conde D. Rodrigo, com doação do castelo e dos bens que aqui detinha, uma vez que estava na posse de toda a região a sul do Douro, herdada em 960.Antes dos romanos estiveram em Trancoso os cartagineses que permaneceram por 300 anos. Seguiram-se os romanos e nesta altura fizeram-se grandes obras.

Trancoso, no século XIII, começa a ter uma importância grande. Tornara-se um local de intensa actividade comercial, por força da periódica reunião de feirantes, de que iria resultar, ainda nesse século, por decisão de D. Afonso III, a criação da sua feira franca. Essa mesma importância, que, como referimos, lhe vinha desde o tempo de D. Afonso Henriques, para quem a sua conquista representava uma acção fundamental para a fixação do território até aí subtraído aos mouros, atribuindo o direito de foral à dita terra, com todos os privilégios e regalias. Deste documento ignora-se a data, mas é em 1217 que D. Afonso II, neto daquele monarca, também por carta régia, confirma tais privilégios e regalias.

Em 1270, D. Afonso III cede por 600 libras anuais os seus direitos sobre Trancoso, o que mostra, com evidência, o valor já assumido pela povoação.

É, porém, com a escolha de Trancoso para lugar do seu casamento com D. Isabel de Aragão, que D. Dinis confirmará a importância assumida por esta terra na era de Duzentos. Depois do famoso enlace das duas régias figuras, em 1282, que trouxe à região trancosana centenas de componentes das duas comitivas e que nela permaneceram por mais de sessenta dias, jamais a Vila de Trancoso deixou de crescer em prestígio e grandeza. É também o próprio rei, que a elegera para palco do seu real casamento, quem vai lançar as bases do grande povoado em que haveria de tornar-se, mercê dessas atenções e dos muitos mais privilégios concedidos por este e outros monarcas.

Contudo, são os séc. XVII, XVIII e XIX que nos permitem falar sobre uma transformação arquitectónica, sob os pontos de vista de construção e de arte, quer nos edifícios civis, quer nos religiosos. Aliás, basta percorrer a Vila, no espaço intramuros e observar a aplicação dos estilos maneirista e barroco em tantas das suas edificações. São disso exemplo, construções como as igrejas de Santa Maria e de S. Pedro e a Misericórdia, também. O solar dos Garcês, o conhecido palácio Ducal, antiga residência dos Viscondes de Trancoso e a Casa do Arcos, ao lado da igreja paroquial de S. Pedro. Curiosamente, a volumetria não se equaciona com o porte em altura, o que nos leva a concluir, definitivamente, que sempre houve um nivelamento que caracterizou a malha urbana que não o enriqueceu com sumptuosidade e esplendor de alguns outros Centros Históricos conhecidos, mas que lhe permite valorizar a unidade dos seu conjunto, apenas pontuado, portanto, aqui e além, por um edifício de maior dimensão, o que, em contrapartida, valoriza o antiquíssimo burgo trancosense.

Cronologia


900
– Nesta centúria, em ano não fixado, o nome de Trancoso aparece num documento coevo, o testamento de D. Chamôa (D. Flâmula), fil

ha do conde D. Rodrigo, que era senhora de toda a região a sul do Douro.

1059 – Trancoso, com muitos outros castelos vizinhos, é libertado do poder dos árabes, depois de várias vicissitudes e durante a

s lutas entre estes e os cristãos, comandados por D. Fernando I «O Magno» de Leão.

1148 – Por Bula de 8 de Setembro, o Papa Eugénio III confirma ao Arcebispo de Braga, D. João Peculiar, a posse, entre outras terras,

do território de Trancoso.

1160 – D. Afonso Henriques desbarata uma nova invasão árabe e reconquista definitivamente o castelo de Trancoso, que recebe as mais importantes obras até então, prosseguidas por D. Sancho I, depois da mort

e de seu pai. Pertenceu à Ordem do Templo, pelo que ficou conhecido por castelo dos Templários.

1198 – O alcaide de Trancoso toma p

arte no célebre combate de Ervas Tenras, contra os leoneses.

1217 – D. Afonso II confirma o foral de Trancoso, dado por D. Afonso Henriques em ano não preciso.

1270 – D. Afonso III cede por 600 libras

anuais os seus direitos em Trancoso.

1282 – Casa nesta Vila o Rei D. Dinis com a princesa D. Isabel de Aragão, mais tarde, Rainha Santa, a quem o régio marido doa o senhorio desses domínios.

1297 – D. Dinís visita uma vez mai

s Trancoso, para assistir às obras de ampliação da muralha da vila e da reconstrução do castelo.

1306 – O mesmo soberano concede a

Trancoso o direito de mudança da sua feira franca, instituída por seu pai, D. Afonso III, para a periodicidade mensal, em vez de anual e com a duração de três dias.

1364 – Os judeus de Trancoso apresent

am queixa a D. Pedro I sobre as arbitrariedades cometidas contra eles pelos cavaleiros que a visitavam, aboletando-se nas suas casa sem pagar. Nesse tempo, o aluguer de casas, durante a feira, rendia tanto como no ano inteiro.

1385 – A 29 de Maio, trava-se a Batalha de S. Marcos (Trancoso), entre as forças portuguesas e castelhanas. As primeiras eram constituídas por elementos de Trancoso, Celorico da Beira, Linhares, e Ferreira de Aves, s

ob o comando do Alcaide Gonçalo Vasques Coutinho. A vitória coube aos nossos guerreiros e tornou-se um sério aviso a D. João I de Castela, pretendente ao trono de Portugal.

1391 – D. João I, por carta régia de 12 de Janeiro, confirma os foros, privilégios e liberdades de Trancoso.

1441 – O Regente D. Pedro enc

arrega D. Fernando Vasques Coutinho, seu alcaide-mor, de importantes obras no castelo de Trancoso.

1496 – Data mais provável do na

scimento do profeta-sapateiro, Gonçalo Anes Bandarra, autor das famosas «Trovas», que correram o mundo.

1510 – A 1 de Junho, D. Manuel

concede Foral Novo a Trancoso.

1530 – O infante D. Fernando, filho de D. João III, por casamento de D. Guiomar Coutinho, herdeira dos senhorios de Trancoso, é designado Alcaide desta Vila.

1534 – Por morte do infante, Tranco

so passa para os bens da coroa.

1543 – Os judeus de Trancoso sofrem grande perseguição, depois de terem ampliado a sua comunidade, com a vinda, no ano de 14

81, de numerosos refugiados de Castela, expulsos pelos reis católicos.

1546 – D. João de Mascarenhas é nomeado Alcaide de Trancoso.

1550 – Nasce em Trancoso o jesuíta João de Lucena, autor de uma obra sobre a vida de S. Francisco Xavier.

1550 – Presume-se que também

tenha sido o ano de nascimento de Gonçalo Fernandes Trancoso, o célebre contista português.

1556 - Ano provável da morte de Gonçalo Anes «Bandarra»», o famoso sapateiro-profeta, que tem o seu túmulo na Igreja de S. Pedro, desta Vila. Neste mesmo ano começa a construção da Fonte Nova, monumento de grande beleza, ainda hoje muito bem conservado.

1640 – Há na vila grandes festejos

pela restauração da Independência de Portugal e, a partir de então, as gentes de Trancoso participam activamente nas lutas contra os castelhanos, que não aceitam esse facto e desencadeiam uma guerra extensa, só concluída no reinado de D. Pedro II.

1704 – Trancoso toma igualmente parte activa na guerra da sucessão e o exército do Marquês das Minas vem abastecer-se à vila.

1768 – A Inquisição proíbe as Tro

vas do Bandarra e manda picar a inscrição do se túmulo.

1808 – Tropas francesas, que invadiram Portugal, chegam a Trancoso, sendo expulsas mais tarde.

1810 – O General Beresford, comandante dos exércitos anglo-portugueses que combatem os invasores franceses, sob a chefia de Ma

ssena, general de Napoleão Bonaparte, estabelece um quartel general em Trancoso, cujo edifício ainda hoje existe. Aquele oficial inglês foi, depois, agraciado com o título de Conde de Trancoso.

1820 – A maioria da população de Trancoso adere à Revolução Liberal.

1838 – É extinto o Convento de Sa

nto António, dos Frades Franciscanos.

1842 – A Câmara Municipal de Trancoso jura a Carta Constitucional.

1850 – É construído, no interior do Castelo, o Teatro de Santa Bárbara, demolido nos anos quarenta deste século.

1861 – Aparece o primeiro jornal

de Trancoso - «O Magriço».

1917 – Conclusão das obras dos actuais Paços do Concelho.

1918 – A epidemia conhecida pela «pneumónica» atinge duramente Trancoso.

2004 - Em 9 de Dezembro a Vila de Trancoso é elevada à categoria de Cidade



Para saber mais acerca de Trancoso: www.trancoso.pt.vu



Deixo, seguidamente, a imagem do monumento que me fez sair do autocarro para disparar uma fotografia. Espero que apreciem este testemunho histórico e a monumentalidade de tal evidência.


















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